quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Fatos sobre Miopatias Mitocondriais (PARTE 3)

Questões especiais nas miopatias e encefalomiopatias mitocondriais

Cuidados respiratórios

Às vezes, essas doenças podem causar fraqueza importante nos músculos que dão suporte à respiração. Também as encefalomiopatias mitocondriais às vezes causam anormalidades cerebrais que alteram o controle do cérebro sobre a respiração.

A miopatia mitocondrial pode levar a problemas respiratórios que requeiram o suporte de um ventilador.
Uma pessoa com problemas respiratórios amenos pode requerer um suporte respiratório ocasional, tal como ar comprimido, enquanto alguém com problemas mais severos pode requerer suporte permanente de um ventilador. As pessoas com desordens mitocondriais devem prestar atenção aos sinais de insuficiência respiratória (tais como fôlego curto ou dores de cabeça matinais), e devem ter sua respiração verificada regularmente por um especialista.


Cuidado cardíaco

Às vezes as doenças mitocondriais afetam diretamente o coração. Nesses casos a causa comum é uma interrupção no ritmo dos batimentos cardíacos chamada bloqueio de condução. Embora perigosa, essa condição é tratável com marca-passo, o qual estimula o batimento normal do coração. Também pode ocorrer dano no músculo cardíaco. Pessoas com desordens mitocondriais podem precisar consultar-se regularmente com um cardiologista.


Outras questões de saúde em potencial


O sistema visual do cérebro pode ser afetado nas crianças com miopatia mitocondrial.
Algumas pessoas com doença mitocondrial experimentam sérios problemas renais, problemas gastrintestinais e/ou diabetes. Alguns desses problemas são efeitos diretos de defeitos mitocondriais nos rins, sistema digestivo ou pâncreas (na diabetes), e outros são efeitos indiretos de defeitos mitocondriais em outros tecidos.

Por exemplo, a rabdomiólise pode levar a problemas renais fazendo com que uma proteína chamada mioglobina vaze de rupturas em células musculares para a urina. Essa condição, mioglobinúria, sobrecarrega a habilidade dos rins de filtrar impurezas do sangue e pode causar danos renais.


Questões especiais nas crianças

Algumas crianças com miopatias mitocondriais passam por atrasos no desenvolvimento.
Visão: Embora a PEO (Oftalmoplegia Progressiva Externa) e a ptose (queda na pálpebra) normalmente causem apenas uma deficiência visual amena nos adultos, são potencialmente mais prejudiciais nas crianças com miopatias mitocondriais.

Por ser o desenvolvimento do cérebro sensível a experiências da infância, a PEO ou a ptose durante esse período podem, às vezes, causar dano permanente no sistema visual do cérebro. Por esse motivo, é importante para as crianças com sinais de PEO ou ptose ter sua visão verificada por um especialista.

Atrasos no desenvolvimento: devido à fraqueza muscular, a anormalidades cerebrais ou a uma combinação de ambos, crianças com doenças mitocondriais podem ter dificuldades de desenvolver certas habilidades. Por exemplo, elas podem levar um tempo mais longo que o esperado para alcançar um estágio tal como sentar, engatinhar e andar. Ao ficarem mais velhas, elas podem ser incapazes de se locomover tão facilmente quanto outras crianças de sua idade, e podem ter problemas na fala e/ou deficiência de aprendizado. Crianças que são severamente afetadas por esses problemas podem se beneficiar de serviços como fisioterapia, terapia fonoaudiológica e possivelmente um programa de educação individualizada na escola.


Corre no sangue da família?

A genética mitocondrial é complexa e, frequentemente, as doenças mitocondriais podem ser difíceis de ser rastreadas numa árvore genealógica. Entretanto, uma vez que são causadas por genes defeituosos, as doenças mitocondriais realmente “correm no sangue da família”.

Para entender como as doenças mitocondriais são passadas de geração a geração é importante saber que há dois tipos de genes essenciais para as mitocôndrias. O primeiro tipo é hospedado dentro do núcleo – a parte de nossas células que contém a maior parte de nosso material genético, ou DNA. O segundo tipo reside exclusivamente no DNA contido dentro das mitocôndrias propriamente ditas.

Mutações no DNA nuclear (nDNA) ou no DNA mitocondrial (mtDNA) podem causar doenças mitocondriais.

A maior parte do nDNA (juntamente com qualquer mutação que tenha) é herdada num padrão de Mendelian, o que significa que uma cópia de cada gene vem de cada um dos pais (pai e mãe).  Também, a maior parte das doenças mitocondriais causadas por mutações no nDNA (incluindo Síndrome de Leigh, MNGIE e mesmo MDS) são recessivas autossômicas, o que significa que é necessário mutações em ambas as cópias de um gene (uma do pai e outra da mãe) para causar a doença.

Diferentemente do nDNA, o mtDNA é transmitido apenas de mãe para filho. Isso porque, durante a concepção, quando o esperma se funde com o óvulo, as mitocôndrias do esperma – e seu mtDNA – são destruídos. Portanto, doenças mitocondriais causadas por mutações no mtDNA são únicas por serem herdadas num padrão maternal. (veja ilustração abaixo)

Outra característica única das doenças do mtDNA advém do fato de que uma célula humana típica – incluindo o óvulo – contém apenas um núcleo, mas centenas de mitocôndrias. Uma única célula pode conter tanto mitocôndrias mutantes como normais, e o equilíbrio entre os dois tipos irá determinar a saúde da célula.

Isso ajuda a explicar por que os sintomas das doenças mitocondriais podem variar tanto de pessoa para pessoa, mesmo dentro da mesma família.

Imagine que os óvulos de uma mulher (e outras células em seu corpo) contêm tanto mitocôndrias mutantes quanto normais, e que alguns têm apenas algumas mitocôndrias mutantes enquanto outros têm muitas. Uma criança concebida a partir de um óvulo “mais saudável” provavelmente não desenvolverá doenças, e uma criança concebida a partir de um óvulo “mais mutante” provavelmente irá desenvolver.

Da mesma forma a própria mulher pode ter ou não sintomas de uma doença mitocondrial.

O risco de transmitir uma doença mitocondrial para seus filhos depende de muitos fatores, incluindo se a doença é causada por mutações no nDNA ou no mtDNA.

Um bom modo de descobrir mais sobre esses riscos é conversar com um médico ou especialista genético. Veja também no site do MDA o artigo “Facts About Genetics and Neuromuscular Diseases.”

A severidade de uma doença mitocondrial em uma criança depende do percentual de mitocôndrias anormais (mutantes) no óvulo que a formou.

(a)   Herança materna de mutações no DNA mitocondrial
(b)  Mãe com sintomas amenos ou nenhum sintoma
(c)   Mitocôndria normal
(d)  Mitocôndria anormal
(e)  Óvulo progenitor
(f)    Aumento no número de mitocôndrias
(g)   Contribuição da mãe
(h)  Óvulos maduros
(i)    Contribuição do pai
(j)    Espermatozóides
(k)   Resultados possíveis

(Possibilidade 1)
Óvulo com 80% de mitocôndrias anormais + espermatozóide
criança com doença grave?
  
(Possibilidade 2)
Óvulo com 50% de mitocôndrias anormais + espermatozóide
criança com doença amena?

(Possibilidade 3)
Óvulo com 20% de mitocôndrias anormais + espermatozóide
criança sem doença?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

“Como você lida com essa miopatia na sua vida? Na sua mente?”

Hoje recebi um e-mail do Bruno, membro da comunidade Miopatia Mitocondrial (Orkut). Ele se sente mal, sente muitas dores musculares, e isso, obviamente o desanima. Ele me perguntou: “Como você lida com essa miopatia na sua vida? Na sua mente?”

A verdade é que levo uma vida o mais “normal” possível. Trabalho, estudo, saio com meus amigos, consigo me divertir etc. Sinto cansaço quando faço algum esforço físico, e dores de cabeça crônicas. Tenho câimbras ocasionais, mas bem fortes, nas pernas e nos pés. Também tenho uns tremores, principalmente nos braços, mas que não chegam a me limitar tanto.

Eu, no P.J. Clarke's, com meus amigos
no sábado 22/1/2011
A ptose e a diplopia é que incomodam demais. Tenho dificuldades para enxergar dos lados, até para atravessar a rua – e dirigir um carro, nem pensar! E quando estou mais cansada aí é que tenho mesmo dificuldade de abrir os olhos. Além do incômodo, tem também a questão da aparência, que para uma mulher é terrível! Eu tinha olhos lindos antes da doença se manifestar e, em pouco tempo vi minha aparência mudar, meu rosto ficar inexpressivo, o que me entristece bastante, apesar de eu sempre tentar lidar bem com o problema e olhar a mim mesma como uma pessoa bonita, abençoada por Deus, pensar que quem não sabe da doença talvez nem perceba e, enfim, não me preocupar demais, já que há coisas realmente muitíssimo piores do que isso... Quando foi preciso, fiz uma plástica para corrigir uma das pálpebras e a outra, por enquanto não necessita de correção. E agora que estou fazendo o tratamento correto para a doença creio também que possa nem vir a precisar mesmo!

Julia, minha sobrinha linda, em novembro de 2010
Outra coisa que me chateia é que não consigo segurar minha sobrinha Julia no colo por muito tempo. Fico cansada rapidamente, meus braços tremem, falta-me a força e sinto até um pouco de falta de ar.

Finalmente, tem as pessoas em volta que acham que sou preguiçosa, que sou molenga, que simplesmente não entendem o problema. Até meus pais tiveram dificuldade de entender por um tempo. Meus irmãos são hiper ativos, sempre fizeram esportes e tal, e eu sempre fui o “patinho feio”, ou melhor, a tartaruga (rsrsrs) em relação a isso. Mas hoje eles entendem perfeitamente e fazem de tudo pelo meu bem estar!

Bem, essa é a minha situação hoje. Vida com limitações mínimas, diria até insignificantes, perto do que poderia ser o quadro! Sou muito grata a Deus por isso, muito mesmo! Quanto ao futuro, tenho muitas dúvidas e medos, mas prefiro deixá-los para quando de fato seja obrigada a lidar com eles. E claro, gostaria de não ter nenhuma limitação, mas quando olho o mundo a minha volta e vejo tantas pessoas passando por coisas tão piores quero crer que tenho muita sorte (não sei se essa é uma boa palavra, mas na falta de outra melhor...), penso que minha vida é muito boa e que não há razão para não me sentir feliz. Aliás, eu estaria até sendo ofensiva com quem sofre tão mais do que eu se ficasse por aí me lamentando.

É isso... Será que respondi, querido Bruno? Espero que você fique bem... Conte comigo no que eu puder ajudar...

Como sempre, um abraço grande e que Deus abençoe abundantemente sua vida!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fatos sobre Miopatias Mitocondriais (PARTE 2)

O que acontece com quem tem uma doença mitocondrial?

Miopatia

Os principais sintomas da miopatia mitocondrial são fraqueza muscular, cansaço e intolerância ao exercício. É importante lembrar que a severidade de quaisquer desses sintomas varia muito de pessoa para pessoa, inclusive na mesma família.

Em alguns indivíduos, a fraqueza é mais proeminente em músculos que controlam os movimentos dos olhos e das pálpebras. Duas consequências comuns são a paralisia gradual dos movimentos oculares, chamada de oftalmoplegia externa progressiva (PEO), e a queda das pálpebras superiores, chamada ptose. Frequentemente as pessoas compensam a PEO movendo suas cabeças para olhar em diferentes direções e podem até mesmo nem perceber problemas visuais. A ptose é potencialmente mais frustrante porque pode prejudicar a visão e também causar uma expressão letárgica, mas pode ser corrigida por cirurgia ou por um par de óculos que tenha uma “muleta para ptose” para levantar as pálpebras superiores.

As miopatias mitocondriais também podem causar fraqueza e cansaço em outros músculos da face e do pescoço, o que pode levar a dificuldades para falar e engolir. Nesses casos, terapia fonoaudiológica ou a mudança da dieta para inclusão de alimentos mais fáceis de se engolir podem ser úteis. Às vezes, as pessoas com miopatia mitocondrial experimentam perda de força muscular nos braços ou pernas e podem precisar de aparelhos ortopédicos ou cadeiras de rodas para se locomover.

A intolerância ao exercício, também conhecida como fadiga por esforço, refere-se a sensações incomuns de exaustão causadas pelo exercício. O grau de intolerância ao exercício varia muito de um indivíduo para o outro. Algumas pessoas podem ter problemas apenas para fazer atividades atléticas como corrida, enquanto outras podem ter problemas para fazer atividades diárias como andar até a caixa de correio ou erguer uma caixa de leite.

Às vezes, a intolerância ao exercício está associada com câimbras musculares dolorosas e/ou dor induzida por lesão. As câimbras são, na verdade, contrações agudas que podem parecer travar os músculos temporariamente, enquanto que a dor induzida por lesão é causada por um colapso muscular agudo chamado rabdomiólise, levando ao vazamento de mioglobina dos músculos pela urina (mioglobinúria). Câimbras ou mioglobinúria geralmente ocorrem quando alguém com intolerância ao exercício comete algum excesso e podem acontecer durante o exercício além do limite ou várias horas depois.



Encefalomiopatia


Algumas pessoas com miopatias mitocondriais perdem a força nas pernas e precisam de uma cadeira de rodas para se locomover.
Uma encefalomiopatia mitocondrial inclui tipicamente alguns dos sintomas acima mencionados mais um ou mais sintomas neurológicos. Novamente, esses sintomas mostram uma enorme variablidade tanto no tipo quanto na gravidade.
Surdez, episódios do tipo enxaqueca e convulsões estão entre os sintomas mais comuns de uma encefalomiopatia mitocondrial. Em pelo menos uma síndrome, dores de cabeça e convulsões são frequentemente acompanhadas por episódios similares a um derrame (AVC).

Felizmente, há bons tratamentos para alguns desses problemas. A surdez pode ser administrada com o uso de aparelhos e formas alternativas de comunicação. Quase sempre as dores de cabeça podem ser aliviadas com medicamentos e as convulsões podem ser prevenidas com drogas para epilepsia (anti-epilépticos).


Terapia ocupacional é importante para crianças com miopatias mitocondriais.
Além de afetar a musculatura do olho, uma encefalomiopatia mitocondrial pode afetar o olho em si e partes do cérebro envolvidas na visão. Por exemplo, perda de visão devida à atrofia ótica (encolhimento do nervo ótico) ou retinopatia (degeneração de algumas das células que alinham o fundo do olho) são sintomas comuns de encefalomiopatia mitocondrial. Comparados a problemas musculares, esses efeitos têm mais chances de causar a perda da visão.

Muitas vezes, a encefalomiopatia mitocondrial causa ataxia, isto é, problemas de equilíbrio e coordenação motora. Pessoas com ataxia são geralmente propensas a quedas. Uma pessoa pode parcialmente evitar esses problemas por meio de fisioterapia e terapia ocupacional, e do uso de aparelhos de suporte como grades, um andador ou – em casos graves – uma cadeira de rodas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Fatos sobre Miopatias Mitocondriais (PARTE 1)

Olá! Espero sinceramente que você esteja muito bem!  


Finalmente publicarei a primeira parte de um texto muito interessante e didático que encontrei na Inernet, então disponível apenas em Inglês, e que traduzi para que mais pessoas possam ter acesso. 


Retirei-o do site http://www.mdausa.org/publications/mitochondrial_myopathies.html pertencente à Associação de Distrofia Muscular (MDA), uma agência norte-americana que dedica-se a estabelecer uma parceria entre cientistas e e cidadãos com algum interesse em saber mais sobre doenças neuromusculares, as quais afetam mais de 1 milhão de pessoas só nos EUA. 


Para saber mais sobre a MDA acesse: http://www.mdausa.org/publications/mdafacts.html


O que aqui me refiro como "artigo" é, na verdade, o conteúdo de uma revista dedicada exclusivamente a esclarecer a um público leigo (como nós, rs...) um pouco mais sobre essa desordem genética que tanto assusta aqueles que ouvem seu nome pela primeira vez.


Sem mais delongas, portanto, eis a primeira parte do texto: 


Caro(a) amigo(a):

Se você está lendo este artigo é provavelmente porque acaba de receber um diagnóstico bem atordoante: miopatia mitocondrial. O que é uma miopatia mitocondrial e o que o termo significa?  Essas são questões com as quais minha esposa Jennifer e eu nos debatemos quando nosso filho Michael recebeu seu diagnóstico em 1993.

Miopatias mitocondriais possuem várias faces. Como você lerá neste artigo, dezenas de varidedades de doenças foram identificadas assim como uma complexa e imensa quantidade de sintomas. Alguns deles podem ser tão leves que são raramente notados, enquanto outros representam riscos à vida.

A doença de Michael causa fraqueza muscular, câimbras, fadiga, baixa resistência e falta de equilíbrio. Você ou um membro da sua família podem ter sintomas similares, ainda que cada caso seja único.

Quando incialmente soubemos que Michael tinha uma miopatia mitocondrial naturalmente ficamos muito assustados e inseguros quanto ao futuro. Com o passar do tempo, aprendemos que podemos fazer coisas que não pensávamos que seria possível – podemos nos adaptar à incerteza, controlar o medo, lidar com as mudanças à medida que ocorrem e ainda ter uma vida familiar feliz e “normal”.

Em 2004 nossas vidas foram novamente viradas de cabeça para baixo quando minha esposa Jennifer soube que ela também tinha uma doença mitocondrial. Os sintomas de Jennifer são mais graves que os de Michael; ela passa por fraqueza muscular severa, fadiga, problemas gastrintestinais, problemas respiratórios e dificuldade para engolir.

Este artigo foi elaborado para ajudá-lo a entender as causas e tratamentos para miopatias mitocondriais. Nós encontramos informações que são ferramentas vitais para lidar com as doenças de Michael e Jennifer e obter o melhor resultado possível.

Deste artigo você também extrairá coisas encorajadoras. Por exemplo, embora essas sejam desordens bastante raras, muitos de seus sintomas são comuns na população em geral, tais como problemas cardíacos, convulsões ou diabetes. Portanto, já existem bons tratamentos médicos para auxiliar no controle de muitos dos sintomas.

Lembre-se sempre de que pesquisadores estão continuamente trabalhando para encontrar tratamentos melhores e, em última instância, curas para doenças mitocondriais. Além disso, pessoas com deficiência têm maiores oportunidades do que nunca de extrair o máximo de suas habilidades, bem como direitos assegurados por lei a iguais oportunidades de emprego e acesso a locais públicos. Às crianças com deficiências físicas e cognitivas é garantido por lei o acesso à educação pública com quaisquer adaptações que necessitem.

A MDA tem sido uma aliada muito importante na medida em que continuamos a aprender a conviver com doenças mitocondriais. O link “MDA is Here to Help You” irá fornecer mais informações sobre os muitos serviços oferecidos pela MDA.

Para nós, Michael não é vítima de uma doença ou síndrome, mas um jovem feliz e amável de quem somos muito orgulhosos. Descobrimos que ninguém pode prever exatamente como os casos de Michael e Jennifer irão evoluir. Fomos abençoados por ver Michael levar uma vida normal, ganhando seu prêmio Águia de Escoteiro e sendo admitido na Sociedade Nacional de Honra. Michael demonstra que ter uma doença mitocondrial não necessariamente impede alguém de alcançar qualquer coisa que deseje.

Enquanto lutamos para nos adaptar às mudanças em nossas vidas, desde o diagnóstico de Jennifer, é reconfortante saber que a MDA está ao nosso lado, dando-nos assistência com equipamentos, clínicas, pesquisas contínuas e simplesmente como uma voz amiga que compreende aquilo pelo que estamos passando.

À medida que enfrenta os desafios adiante, desejamos que você receba a mesma bênção e o mesmo conforto de saber que não está sozinho.

Richard Kelly
Mansfield, Massachusetts – E.U.A.


O que são Doenças Mitocondriais?

Assim como algumas doenças são nomeadas de acordo com a parte do corpo que afetam (como doença cardíaca – “cadio” = coração), as doenças mitocondriais recebem este nome porque afetam uma parte específica das células no corpo. As doenças mitocondriais afetam especificamente as mitocôndrias – minúsculas fábricas de energia presentes dentro de quase todas as nossas células.

As mitocôndrias são responsáveis por produzir a maior parte da energia que é necessária para que nossas células funcionem. Na verdade, elas provêem uma fonte de energia tão importante que uma célula humana típica contém centenas delas. Uma doença mitocondrial pode desativar algumas ou até mesmo todas as mitocôndrias cortando essa fonte essencial de energia.

Quase todas as nossas células dependem das mitocôndrias para um fornecimento estável de energia. Assim, uma doença mitocondrial pode ser uma desordem multi-sistêmica afetando mais de um tipo de célula, tecido ou órgão. Os sintomas exatos não são os mesmos para todos, já que uma pessoa com doença mitocondrial pode ter uma combinação única de mitocôndrias saudáveis e defeituosas com uma distribuição singular pelo corpo.

Como as células musculares e nervosas têm necessidades de energia especialmente altas, problemas musculares e neurológicos – tais como fraqueza muscular, intolerância ao exercício, perda da audição, problemas de equilíbrio e coordenação, convulsões e déficits de aprendizado – são características comuns das doenças mitocondriais. Outras complicações frequentes incluem visão limitada, defeitos cardíacos, diabetes e crescimento físico abaixo do esperado. Geralmente uma pessoa com doença mitocondrial apresenta dois ou mais desses problemas, alguns dos quais ocorrem simultaneamente de um modo tão regular que são classificados como síndromes.

Uma doença mitocondrial que causa problemas musculares proeminentes é chamada de miopatia mitocondrial (“mio” refere-se a “músculo”, “patia” refere-se a “doença”), enquanto que uma doença mitocondrial que causa tanto problemas musculares como neurológicos é chamada de encefalomiopatia (“encéfalo” refere-se ao cérebro).

Doenças Mitocondriais: Um olhar interno

Os principais problemas associados às doenças mitocondriais – baixa energia, produção de radicais livres e acidose lática – podem resultar numa variedade de sintomas em muitos órgãos diferentes do corpo. Este diagrama ilustra sintomas comuns das doenças mitocondriais, dos quais as pessoas mais afetadas têm um subgrupo. Muitos destes sintomas são tratáveis.



1. Sistema nervoso: convulsões, espasmos, atrasos no desenvolvimento, surdez, demência, derrame (muitas vezes antes dos 40 anos), defeitos no sistema visual, falta de equilíbrio, problemas com nervos periféricos.

2. Coração: cardiomiopatia (fraqueza no músculo cardíaco); bloqueio na condução.

3. Fígado: Falência hepática (incomum, a não ser em bebês com síndrome de depleção do DNA mitocondrial), fígado gorduroso (esteatose hepática).

4. Rins: Síndrome de Fanconi (perda de metabólitos essenciais pela urina), síndrome nefrótica (incomum, a não ser em crianças com deficiência de coenzima Q10).

5. Olhos: Queda das pálpebras (ptose), impossibilidade de movimentar os olhos (oftalmoplegia externa), cegueira (retinite pigmentosa, atrofia ótica), cataratas.

6. Musculatura esquelética: fraqueza muscular, intolerância ao exercício, câimbras, excreção da proteína mioglobina na urina (mioglobinúria).

7. Trato digestivo: Dificuldades para engolir, vômitos, sensação de estômago cheio, diarréia crônica, sintomas de obstrução intestinal.

8. Pâncreas: diabetes.

Apesar de seus muitos efeitos potenciais, as doenças mitocondriais às vezes causam pouca deficiência. Às vezes, uma pessoa tem mitocôndrias saudáveis o suficiente para compensar as defeituosas. Também, como alguns sintomas das doenças mitocondriais (tais como diabetes ou arritmia cardíaca) são comuns na população em geral há tratamentos efetivos para esses sintomas (tais como insulina e drogas anti-arrítmicas).

Este artigo descreve causas gerais, conseqüências e administração de doenças mitocondriais com ênfase em miopatias e encefalomiopatias, e uma visão mais próxima das síndromes mais comuns. Estas incluem:

ü      Síndrome de Kearns-Sayre (KSS)

ü      Síndrome de Leigh ou encefalomielopatia necrotisante subaguda

ü      Síndrome do esgotamento do DNA mitocondrial (MDS)

ü      Miopatia mitocondrial, encefalopatia, acidose láctica e episódios do tipo AVC (MELAS)

ü      Epilepsia mioclônica com “ragged red fibers” (fibras rasgadas em vermelho)  (MERRF)

ü      Encefalomiopatia neurogastrintestinal mitocondrial (MNGIE)

ü      Neuropatia, ataxia e retinite pigmentosa (NARP)

ü      Síndrome de Pearson

ü      Oftalmoplegia progressiva externa (PEO)
  

Quais as causas das doenças mitocondriais?

Primeiramente, as doenças mitocondriais não são contagiosas e não são causadas por algo que a pessoa faz. São causadas por mutações, ou mudanças, nos genes – modelos das células para a produção de proteínas.

Os genes são responsáveis por construir nossos corpos e são passados de ambos os pais para os filhos juntamente com quaisquer mutações ou defeitos que esses genes tenham. Isso significa que as doenças mitocondriais são hereditárias, embora elas frequentemente afetem membros da mesma família de maneiras diferentes. (Para maiores informações sobre mutações genéticas e doenças mitocondriais acesse  “Does it Run in the Family?”.)

Os genes envolvidos nas doenças mitocondriais normalmente fabricam proteínas que funcionam dentro das mitocôndrias. Dentro de cada mitocôndria essas proteínas constroem parte de uma linha de produção que usa moléculas de combustível derivadas da alimentação para fabricar a molécula de energia ATP. Esse altamente efetivo processo de produção requer oxigênio; fora da mitocôndria há menos maneiras eficientes de produzir ATP sem oxigênio.

Proteínas no início da linha de produção agem como carregadores, importando as moléculas de combustível – açúcares e gorduras – para dentro da mitocôndria. A seguir, outras proteínas quebram os açúcares e as gorduras, extraindo energia na forma de partículas energizadas chamada elétrons.


Cada mitocôndria é uma fábrica de energia que “importa” açúcares e gorduras, quebra-os e “exporta” energia (ATP).
As proteínas que ficam mais no final da linha de produção – organizadas em cinco grupos chamados de complexos I, II, III, IV e V – levam a energia desses elétrons para produzir ATP. Os complexos de I a IV transportam os elétrons ao fim da linha e são, portanto, denominados cadeia de transporte de elétrons, e o complexo V na verdade produz ATP em larga escala, de modo que é chamado de sintase de ATP.

a. Várias mitocôndrias dentro de uma única célula.
b. Interior de uma mitocôndria.
c. DNA mitocondrial.
d. Goruda e açúcar – “intermediários”.
e. Ciclo do ácido cítrico/Oxidação Beta.
f. Cadeia de transporte de elétrons.
g. Sintase de ATP.
h. Energia ATP.

A deficiência em um ou mais desses complexos é a causa típica das doenças mitocondriais. (Na verdade, as doenças mitocondriais são denominadas de acordo com uma deficiência específica, tal como deficiência do complexo I.)

Quando uma célula é repleta de mitocôndrias defeituosas, não só torna-se privada de ATP, mas pode acumular um suprimento de moléculas de combustível e oxigênio não utilizado com efeitos potencialmente desastrosos.

Em tais casos, o excesso de moléculas de combustível é usado para fabricar ATP por meios ineficientes, os quais podem gerar subprodutos potencialmente prejudiciais, tais como o ácido lático (isso também ocorre quando uma célula tem um suprimento inadequado de oxigênio, o que pode acontecer com as células musculares durante o exercício vigoroso). O aumento do ácido lático no sangue – chamado acidose lática – está associado com a fadiga muscular e pode na verdade danificar os tecidos musculares e nervosos.

Enquanto isso, o oxigênio não utilizado na célula pode ser convertido em compostos destrutivos chamados de espécies reativas de oxigênio, incluindo os assim chamados radicais livres (estes são alvos das assim chamadas drogas e vitaminas antioxidantes.).

A ATP derivada das mitocôndrias fornece a principal fonte de energia para a contração das células musculares e nervosas e é particularmente sensível a defeitos mitocondriais. Os efeitos combinados da privação de energia e acúmulo de toxinas nestas células provavelmente desencadeiam os sintomas principais das miopatias e encefalomiopatias mitocondriais.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Minha história, em progresso, graças a Deus!

Olá! Esta sou eu,
Larissa Maria Martin,
criadora do blog.
Bem vindo(a)!
Lembro-me perfeitamente de um dia em que uma colega de classe me disse que o meu olho esquerdo estava "meio caidinho". Eu cursava o ensino médio e tinha uns 15 anos na época. Não dei muita atenção ao comentário, mas sentia também que tinha dificuldade de enxergar nas laterais porque a visão dobrava (já era a diplopia aparecendo). Isso sem contar o quanto me cansava facilmente ao fazer exercícios físicos.

O tempo passou e em 1994, quando peguei meu álbum de formatura do ensino médio, vi que minha pálpebra esquerda estava mais caída que a direita em todas as fotos. Procurei uma oftalmologista, a qual me recomendou procurar um neurologista. Este solicitou a eletroneuromiografia que me deu o diagnóstico de miastenia gravis. Comecei a ser tratada com Mestinon e Meticorten. A ptose e a diplopia pioraram, até que um amigo da minha família que estudava na Escola Paulista de Medicina me levou para uma consulta com alguns médicos do departamento neuromuscular, os quais recomendaram que eu fizesse uma timectomia (remoção da glândula timo), no intuito de conter o progresso da doença. Em 1996 fui submetida à timectomia e, em seguida, por indicação da esposa do cirurgião que me operou, a qual também era miastênica, fui procurar o Dr. Acary Souza Bulle Oliveira, atual chefe do departamento neuromuscular do Hospital São Paulo, que é meu médico até hoje. Nessa época, meu quadro era consistente com o de miastenia, até porque a biópsia do meu timo mostrou uma hiperplasia (aumento anormal de tamanho). Contudo, a ptose no olho esquerdo foi piorando e, em 1997, fui submetida a uma cirurgia plástica para a correção da mesma.

Nos anos subsequentes tive uma estabilização do quadro e jamais tive uma crise miastênica. No entanto, recentemente vinha notando que a ptose e a diplopia só pioravam e conversei sobre isso com o Dr. Acary, que resolveu solicitar uma biópsia muscular para confirmar ou não o diagnóstico de miastenia gravis. Foi então que, no dia 23 de dezembro de 2010, o Dr. Acary me informou que eu nunca tive miastenia e que, na verdade eu tenho miopatia mitocondrial, um defeito genético nas mitocôndrias que, grosso modo, faz com que nosso corpo produza menos energia do que necessita para funcionar. Gosto de usar a seguinte metáfora para descrever o meu quadro: sou como um aparelho elétrico de 220V ligado numa tomada de 110V - funciona, mas de um jeito beeeeem preguiçoso... rsrsrs...

Agora, ao procurar informação sobre a doença na Internet, me deparei com descrições muito técnicas, nenhuma entidade de apoio ao paciente (se vocês conhecerem alguma, me avisem, por favor) e uma comunidade tímida no Orkut com apenas 67 membros ("Miopatia Mitocondrial" é o nome - fácil assim... rs).

Portanto, resolvi criar este blog com o intuito de compartilhar informações com outros portadores, de uma forma clara, simples, didática, ou seja, um canal de conhecimento acessível a todos!

Assim sendo, conto com sua ajuda para divulgar o blog, contribuir com informações relevantes, dar sugestões, opiniões, compartilhar sua história etc. O contato é: miopatiamitocondrial@gmail.com

Um grande abraço e que Deus abençoe sua vida!
Larissa Maria Martin.